A inflação da Argentina ficou em 2,4% em novembro, apontou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) divulgado nesta quarta-feira (11) pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos do país (Indec).
Em relação a outubro, quando a inflação ficou em 2,7%, a diferença é de 0,3 ponto percentual (p.p.) — o que mostra uma nova desaceleração na taxa.
Em 12 meses, o aumento dos preços chegou a 166%. O acumulado é menor do que o mês de outubro, quando era de 193%. Já na janela de janeiro a novembro, a taxa chegou a 112%.
O setor de maior alta em novembro foi o de Educação (5,1%). Na sequência, ficaram Habitação, Água, Eletricidade, Gás e Outros Combustíveis (4,5%), Bebidas Alcoólicas e Tabaco (4%), Restaurantes e Hotéis (3,6%) e Transporte (3,4%).
A Argentina passa por um grande ajuste econômico sob o comando do presidente ultraliberal Javier Milei. O país já vinha enfrentando uma forte recessão econômica, e Milei promoveu um amplo corte de gastos públicos.
Após tomar posse, em dezembro de 2023, Milei decidiu paralisar obras federais e interromper o repasse de dinheiro para os estados. Foram retirados subsídios às tarifas de água, gás, luz, transporte público e serviços essenciais.
Quando o incentivo foi retirado, houve um aumento expressivo nos preços ao consumidor. Por outro lado, logo no primeiro trimestre deste ano, o presidente conseguiu o primeiro superávit (arrecadação maior do que gastos) desde 2008. O objetivo de Milei é alcançar o "déficit zero" para o fim de 2024.
A inflação do país também desacelerou, dos 25,5% registrados em dezembroaos 2,4% calculados em novembro. Parte da queda no índice tem sido atribuída à diminuição de potencial de consumo entre os argentinos, além de medidas para redução de impressão de dinheiro.
Para os argentinos, no entanto, a queda nas taxas ainda não reflete uma diminuição dos preços de serviços públicos, transporte e de alimentos. E o salário mínimo não conseguiu acompanhar a inflação anual de três dígitos.
A consequência é uma intensificação da pobreza no país: são 15,7 milhões de argentinos abaixo da linha da pobreza, situação que afeta 52,9% da população, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec).
Outro problema está na atividade econômica. Com o ajuste promovido pelo governo, o Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina recuou 5,1% no 1º trimestre em comparação com o mesmo período de 2023. No 2º trimestre, a queda foi de 1,7%, encolhimento acima do esperado por analistas.
As medidas de Milei e os primeiros resultados das contas públicas elevaram os ânimos do mercado financeiro. Passados dez meses, no entanto, o fator longo prazo começa a preocupar quem apoiou as medidas de choque do presidente argentino.
O desconforto ficou claro em uma declaração recente do bilionário argentino Paolo Rocca, CEO da Tenaris, fornecedora mundial de tubos para perfuradoras de petróleo. Antes otimista quanto ao ritmo de mudança econômica do país, ele passou a ponderar as expectativas.
Nesse sentido, um ponto de incômodo do mercado financeiro com Milei é a ordem de prioridades do presidente argentino. A interpretação é que ele tem dado muita atenção ao controle da inflação e deixado em segundo plano ações com foco no longo prazo.
Federico Servideo, diretor-presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira de São Paulo, afirma que a inflação tem servido como uma âncora econômica para Milei, "mas parece que, cada vez mais, esse se torna um suporte político".